Código dos Bola Roja
Doctores BolaRoja (http://www.bolaroja.net/) é uma associação de palhaços de hospital
estabelecida em Lima, no Peru, e coordenada por Wendy Ramos,
membro da equipe de Patch Adams em diversas ocasiões.
Trabalhar como clown de hospital é um assunto muito sério. Não se trata somente de fazer rir, senão de tentar compreender o estado psicológico desses pacientes nesse momento e, então, intervir para desviar sua atenção para um lugar onde possam recuperar sua alma infantil.
Não é simplesmente fazer palhaçadas por fazê-las, é ser cúmplice da dor das crianças e de seus pais.Devemos levar o trabalho muito a sério porque não é toda equipe médica que entende – ou aceita – o que se faz; para muitos, esse trabalho pode parecer uma bobeira e qualquer erro que cometamos poderá ser maximizado.Este trabalho não substitui os remédios, é uma ferramenta com a qual o médico pode contar para fazer seu trabalho, que é restabelecer a saúde do paciente; por isso mesmo é importante conhecer os aspectos gerais das doenças que encontraremos ao longo do nosso trabalho.
Não se pode, por exemplo, falar que estamos mortos de sede e tomaríamos um balde de água tranqüilamente quando estivermos dentro da área de “nefrologia”, na qual as crianças têm restrições para beber água.Temos que começar a aprender algo mais sobre esse assunto para que a sociedade nos aceite como profissionais necessários, úteis, e não como palhacinhos que visitam as crianças durante as festas de Natal.Não se trata de caridade, senão de justiça, não é um ato caridoso, é uma atividade solidária.
- O trabalho deve ser feito sempre em duplas.
- Devemos evitar ser barulhentos, temos que ajudar os pacientes a relaxarem, pois já existe suficiente estresse no ambiente.
- Sempre devemos pedir permissão para entrar numa sala ou aproximar-se de uma cama, a permissão deve ser dada pela própria criança, pelos “donos da casa”. Devemos levar em consideração que quando uma criança entra num hospital perde o controle sobre si mesma; ela é deixada ali sem seus pais, é observada e tocada por estranhos, recebe injeções e medicamentos, tudo à revelia de sua vontade; deixemos que ela pelo menos decida se quer um palhaço perto dela ou não. Geralmente as que se negam a receber um palhaço, no início, logo irão, elas mesmas, convidá-lo. Quando receber uma resposta negativa o melhor a fazer é dizer: “tudo bem, quando você quiser que eu me aproxime você me avisa, tudo bem? Estou por aqui...” e tudo isso com um bom clima.
- É bom envolver os pais e enfermeiros no trabalho – quando estes estejam presentes, claro, porque isso suaviza a tensão e alegra às crianças, tornando íntimo o que parece distante.
Fique atento a tudo para poder variar sua rotina quando for necessário. - Não permita que pais ou equipe médica usem sua presença para chantagear as crianças (tipo: “se você não comer o palhacinho não vai brincar com você”).
- Uma criança que vai passar muito tempo hospitalizada necessita uma abordagem diferente daquela que está ali a pouco tempo. O trabalho com pacientes crônicos passa muito por saber seu nome, seus gostos, para poder conectar-se com ele de uma maneira mais íntima, mais próxima.
- Sempre saber o nome da criança e de seu diagnóstico (não se pode fazer rir a uma criança operada do estômago porque seus pontos se abrem!).
- Também é importante não envolver-se emocionalmente com a situação que estão vivendo, porque senão você “leva o paciente para casa” e sofre. Isso não quer dizer que não comparta a dor com eles mas, sim, que você isola cada caso de sua vida privada.
- As roupas do clown devem estar em bom estado, limpos e cuidados. Qualquer rasgo ou descosido é ampliado pela proximidade e faz com que o clown perca sua dignidade.
- É recomendável lavar as mãos após cada visita.
- Dar mais atenção às crianças mais retraídas, elas são as que mais sofrem e mais necessitam nossa ajuda.
- Desfaça qualquer tipo de “jogo” que suponha perigo para a criança, por menor que seja. Também não é bom aproximar-se muito dos que estão conectados ao soro (e aparelhos similares), isso os deixa mais tensos.
- Quando a criança não pode se mexer ou está conectado a algum aparelho, devemos fazer “jogos” realmente pequenos, como carrinhos sobre sua roupa, música suave, bonecos de dedo.
- Controle os “jogos” que fizer em cada sala, para não repeti-los com as mesmas crianças.
Estes jogos podem ser recuperados de tempos em tempos, quando os pacientes sejam outros. - É muito importante ter uma boa relação com a equipe médica de cada área. Saber se precisam que se dê alguma mensagem a alguma criança em especial (ao que não come, ao que recusa ou resiste ao tratamento...)
- Evite as brincadeiras pesadas mesmo nas áreas de transição entre uma ala e outra. Devemos lembrar que estamos num hospital e todos ali estão preocupados com algum familiar doente; devemos sempre nos aproximar com suavidade.
- No caso de atender a crianças com doenças terminais deve-se ter muito cuidado com o que se diz sobre o “futuro”. Evitem se desgastar dizendo coisas como “não se preocupe, logo você vai estar juntinho da sua família e de seus amigos, vai melhorar e ficar curado” e coisas do tipo. No geral, essas crianças e suas famílias são preparadas para enfrentar o que está por vir e dizer essas coisas é contra-producente para a aceitação da doença.
- Evite levar presentes para as crianças, devemos ter bem claro que vamos brincar com eles, e não levar presentinhos. No caso de perceber que alguma criança necessita um presente, o ideal é preparar um brinquedo com ele (boneco de meia, de papel, etc.).
- Se prometer levar alguma coisa a uma criança, cumpra. Ela estará esperando.
Fonte: MUNDOCLOWN
Tradução: Rodrigo Robleño.
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